O Sporting é irracional. Tem um processo diferente da razão. Viva o sonho...

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

O Mercedes verde.




Tarantela. As mesas começavam a ganhar vida. Uma outra vida. A vida de depois do almoço.
       -Dá leite à máquina.
Gritava o gerente para o balcão. Havia sempre alguém que de uma das mesas repetia a ordem. O velho gerente, já sabia que isso iria suceder, mas irritava-se, irritava-me sempre.
De repente chega o Jorge P saído da cama para a mesa do café. O cheiro a Aramis, o cabelo “lavado” com champô seco.
Antes do bom dia ou boa tarde, dispara:
      - É pá hoje é a final da taça de andebol entre o Sporting e o Porto.
      - Onde? (Pergunta alguém.)
      - Na Guarda.
      - Na Guarda? Estás maluco.
Mas ouve alguém se prontificou a ir buscar o Mercedes se houvesse o número necessário de loucos para irem e para se dividir o preço da gasosa.
       - Dormimos lá. (Alvitrou outro.)
Tudo acertado, reunidos os doentes suficientes, fomos ao trabalho. Buscar os adereços necessários: cachecóis, bandeiras, etc., e a roupa indispensável para uma noite.
 - Meia hora e tudo aqui.
Assim foi. A auto-estrada acabava em Vila Franca de Xira. Longo e incómodo o caminho. Fomos parando e fomo-nos reabastecendo e alegrando.
O Mercedes andava bem. Os quilómetros a percorrer é que eram muitos.
Chegámos à Guarda já era noite. Fomos logo para o pavilhão. Quando olhámos para a bilheteira um letreiro demolidor:
ESGOTADO.
- E agora?
- Não há problema venham comigo. (Disse o Jorge P.)
Fomos. Direitos à porta do pavilhão. O Jorge P. dirigiu-se ao porteiro e disse que vínhamos de Lisboa e não tínhamos bilhete, se havia alguma maneira de entrar, (o paleio do costume). Nada. O incorruptível porteiro continuava firme.
Num repente o Jorge P. dispara:
   - Fazia o favor de dizer a alguém que vá chamar o Bessone Basto e lhe diga que estão aqui uns amigos de Lisboa.
   - O Bessone Basto?
   - Sim, o guarda-redes do Sporting.
Passado algum tempo apareceu o grande Bessone. Dissemos que tínhamos vindo de Lisboa, que não havia bilhetes….
O Bessone virou-se para o porteiro e disse:
    - São meus amigos e convidados, vão entrar comigo.
Atordoado o porteiro nada disse.
Entrámos e assistimos a uma grande vitória do Sporting.
No fim do jogo acabámos no balneário no meio dos campeões. O Jorge P. tomou, vestido e contra vontade, o banho da sua vida.
O Sporting tinha ganho mais uma Taça de Portugal em andebol.
Nós também beijamos essa Taça.



Jorge Carvalho Ferreira
 -Cavaleiro Apocalíptico honoris causa, distinto sócio do Sporting Clube de Portugal, bastião moral e inspirador do sportinguismo na sua variante apocalíptico-poética, grão-mestre do sofrimento atroz e da bizarria leonina, estimadíssimo pai-